sexta-feira, 29 de abril de 2011

Teologia pra viver


“Por essa causa me ponho de joelhos diante do Pai” (Efésios 3.1)

Durante muitos anos acreditei que o auge da espiritualidade cristã era o conhecimento preciso, exaustivo e correto da Bíblia. Conhecer o texto, sua correta interpretação e devida aplicação no dia a dia da vida era o alvo da caminhada de um cristão. Foi quando doutrinas centrais da fé só fizeram sentido pra mim depois de tê-las experimentado em oração, como se o próprio Deus me soprasse elas e me fizesse sentir o que eu só “conhecia de ouvir falar”.
No texto acima citado, numa das cartas mais doutrinárias e densas da Bíblia, depois de uma exposição do que significa a salvação e suas conseqüências na vida do eleito, após ter falado das insondáveis riquezas de Cristo. Paulo abandona a pena (caneta) e se coloca de joelhos, em oração, como se não tivesse mais nada a dizer à nossa cabeça, e apela para Deus, no sentido de Esse, nos comunicar por meio do Espírito, ao nosso espírito, e não ao nosso intelecto, o que nos fora comunicado com palavras.
Daí eu entendo que há uma dimensão do conhecimento cristão que não é da cabeça. Assim como o amor e outros sentimentos não podem ser explicados, apenas sentidos. Mesmo que pudéssemos explica-los, o entendimento não os transformariam em existência naquele que o entendeu. Por exemplo, certa vez, me afeiçoei a uma criança muito fofa que brincava com sua mãe e me pus a imaginar o quanto aquela mãe o amava. Então perguntei a ela como era o amor por ele, ao que ela respondeu: “É um amor que chega a doer”. Sua explicação não foi suficiente para eu “entender” o amor, porém, mesmo que fosse, eu não teria imediatamente sentido o que ela sentia, tão somente porque entendi. Pois o amor não é entendimento, é afeto, e como tal, sai da competência da razão.
Assim é também nossa relação com Deus e com as verdades bíblicas. A Bíblia não é um fim em si mesma, ela aponta para um relacionamento vivo com o Deus vivo. Cristo é o Caminho e as Escrituras Sagradas são as placas de sinalização.
Assim como Paulo depois de escrever, abandona o texto e ora, devemos depois de ler, fechar a Bíblia e dizer: “Pai, me faça sentir, ser e experimentar o que a tua palavra me ensinou, amém”.         

4 comentários:

  1. "Daí eu entendo que há uma dimensão do conhecimento cristão que não é da cabeça."

    leonardo boff em um dos seus livros teológicos diz que na verdade, nenhuma teologia é possível, já que a teologia quer racionalizar o sentimento humano pelo divino ou aquela experiência primitiva que liga o homem a deus.

    ele está certo. nós fazemos teologias e doutrinas, mas o mais importante é o que vai na alma de quem crê. e isso eu estendo para qualquer um que creia ainda que creia de forma diversa da qual eu creio.

    abraços

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  2. Muito bom o exemplo, e a explicação. Agora como se explica o amor de uma pessoa por alguém que nos faz o mal? Como Deus pode se entregar a dor e a morte, por um povo que em um momento o exaltava com palmas, e logo em seguida o troca por um ladrão e assassino? Gostaria, se possível, de uma explicação Bíblica para isto.

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  3. Bem Eduardo, não penso de forma tão radical assim, é inevitável e salutar que o cristianismo tenha um corpo doutrinário muito bem definido. E que suas verdades doutrinárias sejam, até certo ponto, intransigentes, como por exemplo, a de que só há salvação para aqueles que crêem em Jesus. E como todo pensar religioso é um pensar teológico, é impossível não fazer teologia.
    A tentação que temos de resistir é a de que o pensamento doutrinário seja a única dimensão da nossa fé. Como afirmou James Houston: "Precisamos de uma teologia mais espiritual e de uma espiritualidade mais teológica".

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  4. Excelente questão Diniz, é exatamente para esse amor que não há uma "explicação" bíblica. Porque esse amor não quer ser explicado, quer ser sentido. Não peça para um teólogo te explicar o amor de Deus, peça para Deus te inundar desse amor.

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