quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

A Igreja e Sua Missão

"Uma Igreja desconectada do cotidiano não tem futuro, só passado." (Junger Molltman) .
Sou um apaixonado pela história da igreja e pela teologia desenvolvida pelos nossos pais, tanto é que estou me especializando em história da teologia, mas o faço, não para conhecer o passado, e sim, para entender o presente. Não possuo nenhum espírito expeculativo, sou afixionado por conhecer a verdade de Deus revelada nas páginas das Escrituras, e pela sua obra que se manifesta no dia a dia das nossas vidas. Pois, se a criação é obra de Deus, então nossas histórias são parte de Sua obra. Sonho com uma igreja que conhece suas raízes, que influencie a sua geração e que deixe um testemunho para o futuro.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

O fim da era dos heróis



Li recentemente um comentário sobre a vida de Jorge Whitefield que me deixou perplexo, com sensação de que fui enganado durante anos. Havia lido anteriormente que este era um fenômeno em unção e poder do Espírito na área da pregação.  Multidões se aglomeravam nas praças ao ouvir que ele estava na cidade, comerciantes fechavam as portas de seus estabelecimentos para ouvi-lo, seu sermão podia ser escutado a uma distância de dois quilômetros e coisas desse tipo. No entanto, o último comentário que li diz que ele foi o primeiro a utilizar estratégias de marketing. Whitefield anunciava suas campanhas evangelísticas em uma cidade com dois anos de antecedência, fazendo publicações nos jornais, distribuição de panfletos na cidade e enviando equipes responsáveis por fazer contato e parcerias com os pastores das igrejas locais, havia até visitas desses obreiros de casa em casa para a preparação do grande dia da conferência.
Não tenho nada contra o marketing, nem contra Whitefield, mas durante anos da minha vida acreditei, em função de histórias como essa, que uma boa igreja se fazia com um homem santo e cheio do Espírito pregando como um anjo, a palavra de Deus. Acreditei ingenuamente que o Reino de Deus era constituído por heróis extraordinários e milagrosos produzindo feitos fantásticos e sobre-humanos. Agora começo a ver que esses homens não existem, são uma produção do nosso imaginário fantasioso e idólatra. Eram sim homens bons, com uma boa equipe de trabalho conjunto se esforçando de forma inteligente e estratégica para levar a salvação aos perdidos.
Desde então, venho desistindo desse estilo de ministério personalista e egocêntrico, onde acreditava que para ser um bom homem de Deus deveria ser um Rambo da fé, sozinho e bravo, tirando água da pedra. Agora acredito que o Reino de Deus é constituído por pessoas normais, pelos membros mais simples do corpo de Cristo e pelos pastores anônimos que não entraram para as páginas da história. Por pessoas como eu e você que provavelmente nunca terão admiradores deslumbrados escrevendo livros e histórias entusiásticas a nosso respeito. Por pessoas como João Batista que diz: “importa que Ele cresça e que eu diminua”.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

A Abscondicidade do Cristão e da Igreja


“Pensai nas coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus. Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra; porque morrestes, e a vossa vida está OCULTA juntamente com Cristo, em Deus.” (Cl 3.1,2)

Essa foi a descoberta mais fascinante e revolucionária da minha fé: a doutrina da abscondicidade do cristão e da igreja. É comum ouvirmos que Cristo já conquistou por nós todas as bênçãos espirituais nas regiões celestes (Ef 1.3), e que agora cabe a nós tomarmos posse dessas bênçãos, ou seja, trazê-las para a terra. Mas isso se configura em um grande erro. Como diz o texto acima e os versos subseqüentes, sempre que questionados por outros ou pela própria consciência sobre sua santidade, justiça, glória, ou sobre as bênçãos que acompanham os filhos de Deus, você deve apontar para o alto, porque essas coisas estão escondidas aos nossos olhos e só serão vistas quando Cristo voltar.

Esse foi um tema recorrente na teologia de Lutero que ele chamou de “abscondicidade do cristão e da igreja” ou invisibilidade para ser mais claro. No texto abaixo, na introdução do seu comentário à Apocalipse, Lutero analisa uma afirmação do credo apostólico onde chama a atenção para o fato da igreja ser um artigo de fé e como tal, não quer ser vista, mas crida.

  “Esse ponto (“creio em uma santa igreja cristã”) é um artigo de fé como os outros. Por isso intelecto nenhum pode reconhecê-lo, ainda que coloque um monte de óculos, pois o diabo pode muito bem encobrir a igreja com escândalos e divisões, de modo que só podes mesmo ficar indignado com ela. Da mesma forma, também Deus pode ocultá-la com fraquezas e toda sorte de deficiência, fazendo-te de bobo, de modo que dela farás um conceito errôneo. Ela não quer ser vista, mas crida, e a fé é daquilo que não se vê, Hebreus 11.1. e com seu Senhor ela também canta o seu refrão: “Bem-aventurado aquele que não ficar escandalizado por causa de mim” [Mt 11.6]. Da mesma forma, o cristão também está oculto diante de si mesmo, de modo que não enxerga a sua santidade e virtude, mas somente percebe desvirtude e falta de santidade em si mesmo. E tu sabichão grosseiro, querias enxergar a cristandade com tua razão cega e teus olhos impuros!?
    Resumindo, nossa santidade está no céu, onde está Cristo, e não no mundo diante dos olhos como uma mercadoria na feira. Por isso, deixa que escândalo, divisões, heresia e fraquezas reinem como queiram. Contanto que a palavra do Evangelho permaneça pura entre nós, e nós a amemos e valorizemos, não duvidaremos que Cristo está entre nós e conosco, mesmo que as coisas andem muito mal. Como vemos aqui neste livro [no Apocalipse], Cristo, no meio e acima de todos os tormentos, bestas e anjos maus, não deixa de estar com e entre seus santos, impondo-se, por fim.”

Solus Cristus!

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Projeto Construir

“Não é possível refazer este país, democratiza-lo, humaniza-lo, torna-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não transformar a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”. (Paulo Freire)

O Projeto Construir é uma escola de educação infantil, fundada há quatro anos com o objetivo de proporcionar ensino pedagógico de qualidade, associado à fé cristã, para crianças pobres da Cidade de Deus. A escola funciona no espaço físico da igreja, que hoje, possui cerca de quarenta alunos em dois turnos, manhã e tarde. Cada criança recebe um padrinho, mantenedor que paga sua mensalidade R$ 60,00 (sessenta reais), e pode ser acompanhada por meio de relatórios ou visitas à escola.

Se você quer fazer parte desse projeto entre em contato conosco pelo telefone ou pelo site.

Tel: (21) 2447 1881



quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Fé e Desemprego


É impressionante como conseguiram reduzir a fé, que é algo tão grandioso, a sinônimo de desemprego; eu explico! Viver pela fé, no dizer dos irmãos significa: “estou desempregado e dependendo da intervenção direta de Deus pra pagar as contas e comer”. É claro que essa intervenção se dá por meio dos irmãos assalariados e trabalhadores que se compadecem. E não demora muito para o desemprego virar ministério. Bastam alguns meses desempregado que o irmão já acha que o Senhor o está separando para a obra. Daí, começa a se intitular missionário, fazer visitas semanais à casa das pessoas com o pretexto de orar, visitar alguns doentes nos hospitais, passar cinco horas do dia no monte orando, e claro, dizer pra todo o mundo que “tá na prova”, ou seja, sem grana, e que viver pela fé (sem trabalhar) não é fácil, afinal de contas, quem quer ser um servo do Senhor tem que pagar o preço.
Esses são os profetas, missionários e irmãs de oração que compõe o grupo dos espirituais da igreja, enquanto os crentes trabalhadores do dia a dia se consideram cristãos de segunda categoria, pois não podem dedicar-se de tempo integral à obra de Deus. Assim surge o moderno monasticismo evangélico.
Para o movimento monástico medieval a obra de Deus consistia em abdicar de todo o afazer secular (trabalho, família, lazer) e dedicar-se unicamente à oração meditação e contemplação. Todo cristão que quisesse ser perfeito teria de entrar para um mosteiro ou seria considerado um mundano. O próprio Lutero foi um monge da ordem dos agostinianos, até que em seu estudo das Escrituras descobriu o que chamou de “doutrina da vocação”. Significa que todo homem é vocacionado por Deus para um ofício, portanto todo ofício é sagrado. Certa vez, um jovem engraxate perguntou a Lutero se teria que entrar para o ministério pastoral a fim de glorificar a Deus, Lutero lhe respondeu: “Não, cobre o preço justo e engraxe sapatos para a glória de Deus”. Para o reformador, um bom cristão não difere em nada de um bom cidadão, enquanto que os monges são imprestáveis e de nenhuma valia para a sociedade.

Sola Scriptura!



terça-feira, 1 de setembro de 2009

Sobre o Título

Ao escolher o título deste blog não o faço aleatoriamente porque soa bem aos ouvidos, nem pretendo atrair a atenção de estudantes de teologia e afins, até acho que a palavra “teologia” afastará muitos dos que gostaria que lessem o que tenho a dizer. Isso porque a espiritualidade cristã dos nossos dias é avessa ao saber e dada à oração sem meditação, um pouco por culpa de teólogos que levam uma vida estéril, dados a leitura, porém sem beleza no viver e sem graça no falar. Teologia pra viver é a proposta de um conhecimento experimental da pessoa de Cristo, não é reflexão abstrata, ainda que por vezes parecerá. É na verdade, o que gosto de definir como psicologia da Cruz. Uma reflexão (meditação) nas verdades mais preciosas da Bíblia que nos fará viver melhor.
Em uma aula inaugural, certa vez, no seminário em que estudei (Escola de Pastores) o Pr. Ricardo Barbosa expôs a necessidade de produzirmos uma “teologia mais espiritual e uma espiritualidade mais teológica”. Se entendi bem o que ele quis dizer, acho que encontrei essa boa equação na teologia do grande reformador. Lutero rompeu com essa visão aristotélica tradicional dos pares, que consiste na diferenciação entre teoria e prática, entre contemplação e ação, em suas palavras: “para que não sejamos seduzidos pela vita activa com suas obras nem pela vita contemplativa com suas especulações”. Para ele a terceira alternativa da teologia é chamada de vita passiva, que se desenvolve na fé.
A fé não é um fazer, mas um crer, onde o próprio crer é obra divina em mim, portanto, nem a fé é obra minha, mas de Deus. “A justificação da fé é passiva no fato de que deixamos Deus agir sozinho em nós e nós mesmos com todas as nossas forças não efetuamos nada próprio” (Lutero).
Portanto, crescer espiritualmente significa ser tomado gradativamente de uma consciência de quem eu sou na pessoa de Jesus. Vida passiva é conhecer Cristo e o seu fazer por mim, é me perceber em união com ele  e viver a partir de quem sou unido a essa pessoa. É desistir de toda dignidade própria e absorver a Cristo com toda a sua dignidade.

Sola fide!

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Minha Reforma Protestante

Levei anos da minha vida cristã para entender a mensagem do evangelho. Me converti lendo a Bíblia sozinho e por iniciativa própria. Minha caminhada cristã foi marcada por leitura intensa das Escrituras, fui logo chamado por Deus ao ministério pastoral e dei, por conta disso, início aos estudos teológicos. Apesar de ter estudado num bom seminário calvinista e ser membro de uma excelente igreja Presbiteriana, a relação que eu tinha com Deus era, o que posso chamar de medieval. E por incrível que pareça, minha fé passou por uma reforma protestante. E para fazer jus à história, essa reforma se deu a partir do meu encontro com os escritos de Lutero.
Eu cria que a salvação era pela graça mediante a fé em Jesus Cristo e não pelas obras, porém, na prática, sei lá porque, eu entendia que as boas obras que a fé produzia é que salvavam. Em outras palavras; a santidade, o amor à Deus e ao próximo, a irrepreensibilidade e a devoção que a fé produz é que salvam. Fui, então, treinado a avaliar minha salvação pela qualidade da minha fé, ou seja, pelas obras que ela produzia. É o que um grande teólogo reformado da igreja chamado Jonathan Edwards (que ainda admiro) chamou de “As marcas da graça”. Para ele, o que prova que a fé de um homem é verdadeira é a santidade. Levei isso tão a sério que só Deus sabe quantas vezes pedi para que Ele me tirasse do ministério pastoral, porque me sentia um enganador. Quantas vezes pedi a Deus para morrer a fim de cessar as lutas que travava com minhas tentações.
Minha teologia estava correta, a salvação é pela graça mediante a fé em Cristo, o que estava errado era o meu conceito de fé. A grande pergunta que eu nem soube formular, até então, era: o que é fé? Até que entrei em contato com os livros de Martinho Lutero, onde sua concepção de quem é Cristo e o que é a fé, não só concertaram minha teologia, mas me abriram as portas para a vida.
O que pretendo compartilhar aqui com vocês é um pouco desses escritos, temas e assuntos tão estranhamente desconhecidos, que trouxeram libertação para o cativeiro babilônico da igreja, luz para a idade das trevas e alegria para mim.  

Sola gratia!