terça-feira, 14 de junho de 2011

Um deus Chamado Ego


Certo cristão achava de vital importância ser pobre e ter uma vida austera. Nunca lhe ocorrera que vitalmente importante era abrir mão de seu ego; não lhe ocorrera que o ego engorda tanto com a santidade quanto com o mundanismo, com a pobreza tanto quanto com a riqueza, com a austeridade tanto quanto com o luxo. Não há nada que o ego não use para inflar a si mesmo.


Discípulo: Venho a ti com nada em minhas mãos.
Mestre: Então o largue imediatamente!
Discípulo: Como posso largar? Não é nada?
Mestre: Então o arraste com você! Você pode fazer de seu nada um bem. E carregar sua renúncia por aí como um troféu. Não abra mão de suas posses. Abra mão de seu ego.
                                                                                                                   Brennan Manning, A Assinatura de Jesus

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Entrevista com C. S. Lewis


PerguntaQual das religiões do mundo confere a seus seguidores maior felicidade?Lewis: Qual das religiões do mundo confere a seus seguidores maior felicidade? Enquanto dura, a religião da auto-adoração é a melhor. Tenho um velho conhecido já com seus 80 anos de idade, que vive uma vida de inquebrantável egoísmo e auto-adoração e é, mais ou menos, lamento dizer, um dos homens mais felizes que conheço. Do ponto de vista moral, é muito difícil. Eu não estou abordando o assunto segundo esse ponto de vista. Como vocês talvez saibam, não fui sempre cristão. Não me tornei religioso em busca da felicidade. Eu sempre soube que uma garrafa de vinho do Porto me daria isso. Se você quiser uma religião que te faça feliz, eu não recomendo o cristianismo. Tenho certeza que deve haver algum produto americano no mercado que lhe será de maior utilidade, mas não tenho como lhe ajudar nisso.
PerguntaOs materialistas e alguns astrônomos sugerem que o sistema solar e a vida como a conhecemos foram criados por uma colisão estelar acidental. Qual é a visão cristã dessa teoria?Lewis: Se o sistema solar foi criado por uma colisão estelar acidental, então o aparecimento da vida orgânica neste planeta foi também um acidente, e toda a evolução do Homem foi um acidente também. Se é assim, então todos nossos pensamentos atuais são meros acidentes – o subproduto acidental de um movimento de átomos. E isso é verdade para os pensamentos dos materialistas e astrônomos, como para todos nós. Mas se os pensamentos deles – isto é, do Materialismo e da Astronomia – são meros subprodutos acidentais, por que devemos considerá-los verdadeiros? Não vejo razão para acreditarmos que um acidente deva ser capaz de me proporcionar o entendimento sobre todos os outros acidentes. É como esperar que a forma acidental tomada pelo leite esparramado pelo chão, quando você deixa cair a jarra, pudesse explicar como a jarra foi feita e porque ela caiu.
PerguntaA aplicação dos princípios cristãos daria um fim ou reduziria enormemente o progresso material e científico? Em outras palavras, é errado para um cristão ser ambicioso e lutar por progresso material?Lewis: É mais fácil pensar num exemplo mais simples. Como a aplicação dos princípios cristãos afetaria alguém numa ilha deserta? Seria menos provável que esse cristão isolado construísse uma cabana? A resposta é “Não”. Pode chegar um momento em que o Cristianismo o diga para se preocupar menos com a cabana, isto é, se ele estiver a ponto de considerar a cabana a coisa mais importante do universo. Mas, não há nenhuma evidência de que o Cristianismo o impediria de construir um abrigo. Ambição! Devemos ter cuidado sobre o que queremos dizer com essa palavra. Se for desejo de passar à frente de outras pessoas – que é o que eu penso que quer dizer – então, ela é uma coisa má. Se significar apenas desejo de fazer bem uma coisa, então é boa. Não é errado para um ator querer atuar tão bem quanto possível, mas desejar ter seu nome escrito com uma letra maior do que a de outros atores, isso sim é errado.
PerguntaTudo bem em ser General, mas se alguém tiver a ambição de ser General, então não dever ser?Lewis: O mero evento de se tornar um General não é nem certo, nem errado em si mesmo. O que importa moralmente é sua atitude em relação a isso. O homem pode estar pensando em vencer a guerra; ele pode estar desejando em ser General porque honestamente pensa que tem um bom plano, e ficará feliz em colocá-lo em prática. Isso está ok. Mas, se ele pensa: “O que posso ganhar com esse emprego?” ou “O que devo fazer para aparecer na primeira página do Illustrated News?” então, isso é errado. O que chamamos de ambição, usualmente, significa o desejo de ser mais notável ou mais bem sucedido que outra pessoa. É o elemento competitivo que é nocivo. É perfeitamente razoável querer dançar melhor ou ter uma aparência melhor do que outros – quando você começar a perder o prazer se outros dançarem melhor que você ou tiverem uma melhor aparência, então você está indo na direção errada.

A Igreja como Ídolo


Certa vez perguntei a Deus se a igreja que pastoreio iria crescer, e Ele me respondeu: EU TE AMO.
No primeiro instante foi gostoso ouvir essa declaração de Deus a meu respeito, segundos depois se tornou desconcertante, pois a declaração era também uma crítica. Entendi que minha relação com a igreja era idólatra, ou seja, eu usava a igreja e seu “sucesso” como elemento de auto-avaliação, de valorização da minha pessoa e de auto-justificação. Entendo por auto-justificação tudo o que nos parece comunicar a aprovação de Deus e dos homens.
Naquele momento Deus estava dizendo: desista de tentar construir uma imagem própria que seja aceitável e louvável. Abandone de uma vez por todas a busca por arrancar das pessoas aprovação por meio das suas realizações. E aprenda, de uma vez por todas, que o seu valor está no que sito por você. E que não preciso que você me impressione, não fico deslumbrado com sua devoção, nem tocado com suas renúncias ou sensibilizado com sua santidade, que sua habilidade para ensinar minha palavra, pastorear pessoas, cuidar dos oprimidos e administrar minha igreja não arranca aplausos de mim. Te amo mesmo inábil, fraco, desorientado, insuficiente, arrogante, incrédulo. E exijo que aceite o meu amor sem qualquer tentativa de compensação. O meu amor é o que te define, e não, seu sucesso profissional. Defina-se radicalmente como AMADO. Acho que foi isso o que Ele quis dizer.
Desde então, tenho me esforçado em redimensionar minha vida e minhas atividades em torno do amor do Pai por mim. A tarefa não tem sido fácil, pois descobri que a igreja, na verdade, é um ídolo de superfície, um meio para satisfazer um outro ídolo, um ídolo de profundidade, eu.
Tem sido difícil, sobretudo, por falta de referências. Todos parecem estar tão preocupados quanto eu com o estabelecimento do seu reino, poder e glória, exatamente a tentação da qual o Senhor nos ensina a pedir que sejamos livrados: “pois teu é...” não nosso.
Nessa busca por crescimento espiritual aprendo que nunca conseguiremos avançar à primeira lição do Senhor, a de que somos espiritualmente miseráveis e que não há nenhum tom de depreciação nessas palavras, antes, o convite para nos sentirmos bem-aventurados e a certeza de que nosso, exatamente nosso é o Reino dos Céus.