Certa vez perguntei a Deus se a igreja que pastoreio iria
crescer, e Ele me respondeu: EU TE AMO.
No primeiro instante foi gostoso ouvir essa declaração de
Deus a meu respeito, segundos depois se tornou desconcertante, pois a
declaração era também uma crítica. Entendi que minha relação com a igreja era
idólatra, ou seja, eu usava a igreja e seu “sucesso” como elemento de
auto-avaliação, de valorização da minha pessoa e de auto-justificação. Entendo
por auto-justificação tudo o que nos parece comunicar a aprovação de Deus e dos
homens.
Naquele momento Deus estava dizendo: desista de tentar
construir uma imagem própria que seja aceitável e louvável. Abandone de uma vez
por todas a busca por arrancar das pessoas aprovação por meio das suas
realizações. E aprenda, de uma vez por todas, que o seu valor está no que sito
por você. E que não preciso que você me impressione, não fico deslumbrado com
sua devoção, nem tocado com suas renúncias ou sensibilizado com sua santidade,
que sua habilidade para ensinar minha palavra, pastorear pessoas, cuidar dos
oprimidos e administrar minha igreja não arranca aplausos de mim. Te amo mesmo
inábil, fraco, desorientado, insuficiente, arrogante, incrédulo. E exijo que
aceite o meu amor sem qualquer tentativa de compensação. O meu amor é o que te
define, e não, seu sucesso profissional. Defina-se radicalmente como AMADO.
Acho que foi isso o que Ele quis dizer.
Desde então, tenho me esforçado em redimensionar minha vida e
minhas atividades em torno do amor do Pai por mim. A tarefa não tem sido fácil,
pois descobri que a igreja, na verdade, é um ídolo de superfície, um meio para
satisfazer um outro ídolo, um ídolo de profundidade, eu.
Tem sido difícil, sobretudo, por falta de referências. Todos
parecem estar tão preocupados quanto eu com o estabelecimento do seu reino,
poder e glória, exatamente a tentação da qual o Senhor nos ensina a pedir que
sejamos livrados: “pois teu é...” não nosso.
Nessa busca por crescimento espiritual aprendo que nunca
conseguiremos avançar à primeira lição do Senhor, a de que somos
espiritualmente miseráveis e que não há nenhum tom de depreciação nessas
palavras, antes, o convite para nos sentirmos bem-aventurados e a certeza de
que nosso, exatamente nosso é o Reino dos Céus.
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