sexta-feira, 25 de setembro de 2009

A Abscondicidade do Cristão e da Igreja


“Pensai nas coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus. Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra; porque morrestes, e a vossa vida está OCULTA juntamente com Cristo, em Deus.” (Cl 3.1,2)

Essa foi a descoberta mais fascinante e revolucionária da minha fé: a doutrina da abscondicidade do cristão e da igreja. É comum ouvirmos que Cristo já conquistou por nós todas as bênçãos espirituais nas regiões celestes (Ef 1.3), e que agora cabe a nós tomarmos posse dessas bênçãos, ou seja, trazê-las para a terra. Mas isso se configura em um grande erro. Como diz o texto acima e os versos subseqüentes, sempre que questionados por outros ou pela própria consciência sobre sua santidade, justiça, glória, ou sobre as bênçãos que acompanham os filhos de Deus, você deve apontar para o alto, porque essas coisas estão escondidas aos nossos olhos e só serão vistas quando Cristo voltar.

Esse foi um tema recorrente na teologia de Lutero que ele chamou de “abscondicidade do cristão e da igreja” ou invisibilidade para ser mais claro. No texto abaixo, na introdução do seu comentário à Apocalipse, Lutero analisa uma afirmação do credo apostólico onde chama a atenção para o fato da igreja ser um artigo de fé e como tal, não quer ser vista, mas crida.

  “Esse ponto (“creio em uma santa igreja cristã”) é um artigo de fé como os outros. Por isso intelecto nenhum pode reconhecê-lo, ainda que coloque um monte de óculos, pois o diabo pode muito bem encobrir a igreja com escândalos e divisões, de modo que só podes mesmo ficar indignado com ela. Da mesma forma, também Deus pode ocultá-la com fraquezas e toda sorte de deficiência, fazendo-te de bobo, de modo que dela farás um conceito errôneo. Ela não quer ser vista, mas crida, e a fé é daquilo que não se vê, Hebreus 11.1. e com seu Senhor ela também canta o seu refrão: “Bem-aventurado aquele que não ficar escandalizado por causa de mim” [Mt 11.6]. Da mesma forma, o cristão também está oculto diante de si mesmo, de modo que não enxerga a sua santidade e virtude, mas somente percebe desvirtude e falta de santidade em si mesmo. E tu sabichão grosseiro, querias enxergar a cristandade com tua razão cega e teus olhos impuros!?
    Resumindo, nossa santidade está no céu, onde está Cristo, e não no mundo diante dos olhos como uma mercadoria na feira. Por isso, deixa que escândalo, divisões, heresia e fraquezas reinem como queiram. Contanto que a palavra do Evangelho permaneça pura entre nós, e nós a amemos e valorizemos, não duvidaremos que Cristo está entre nós e conosco, mesmo que as coisas andem muito mal. Como vemos aqui neste livro [no Apocalipse], Cristo, no meio e acima de todos os tormentos, bestas e anjos maus, não deixa de estar com e entre seus santos, impondo-se, por fim.”

Solus Cristus!

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Projeto Construir

“Não é possível refazer este país, democratiza-lo, humaniza-lo, torna-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não transformar a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”. (Paulo Freire)

O Projeto Construir é uma escola de educação infantil, fundada há quatro anos com o objetivo de proporcionar ensino pedagógico de qualidade, associado à fé cristã, para crianças pobres da Cidade de Deus. A escola funciona no espaço físico da igreja, que hoje, possui cerca de quarenta alunos em dois turnos, manhã e tarde. Cada criança recebe um padrinho, mantenedor que paga sua mensalidade R$ 60,00 (sessenta reais), e pode ser acompanhada por meio de relatórios ou visitas à escola.

Se você quer fazer parte desse projeto entre em contato conosco pelo telefone ou pelo site.

Tel: (21) 2447 1881



quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Fé e Desemprego


É impressionante como conseguiram reduzir a fé, que é algo tão grandioso, a sinônimo de desemprego; eu explico! Viver pela fé, no dizer dos irmãos significa: “estou desempregado e dependendo da intervenção direta de Deus pra pagar as contas e comer”. É claro que essa intervenção se dá por meio dos irmãos assalariados e trabalhadores que se compadecem. E não demora muito para o desemprego virar ministério. Bastam alguns meses desempregado que o irmão já acha que o Senhor o está separando para a obra. Daí, começa a se intitular missionário, fazer visitas semanais à casa das pessoas com o pretexto de orar, visitar alguns doentes nos hospitais, passar cinco horas do dia no monte orando, e claro, dizer pra todo o mundo que “tá na prova”, ou seja, sem grana, e que viver pela fé (sem trabalhar) não é fácil, afinal de contas, quem quer ser um servo do Senhor tem que pagar o preço.
Esses são os profetas, missionários e irmãs de oração que compõe o grupo dos espirituais da igreja, enquanto os crentes trabalhadores do dia a dia se consideram cristãos de segunda categoria, pois não podem dedicar-se de tempo integral à obra de Deus. Assim surge o moderno monasticismo evangélico.
Para o movimento monástico medieval a obra de Deus consistia em abdicar de todo o afazer secular (trabalho, família, lazer) e dedicar-se unicamente à oração meditação e contemplação. Todo cristão que quisesse ser perfeito teria de entrar para um mosteiro ou seria considerado um mundano. O próprio Lutero foi um monge da ordem dos agostinianos, até que em seu estudo das Escrituras descobriu o que chamou de “doutrina da vocação”. Significa que todo homem é vocacionado por Deus para um ofício, portanto todo ofício é sagrado. Certa vez, um jovem engraxate perguntou a Lutero se teria que entrar para o ministério pastoral a fim de glorificar a Deus, Lutero lhe respondeu: “Não, cobre o preço justo e engraxe sapatos para a glória de Deus”. Para o reformador, um bom cristão não difere em nada de um bom cidadão, enquanto que os monges são imprestáveis e de nenhuma valia para a sociedade.

Sola Scriptura!



terça-feira, 1 de setembro de 2009

Sobre o Título

Ao escolher o título deste blog não o faço aleatoriamente porque soa bem aos ouvidos, nem pretendo atrair a atenção de estudantes de teologia e afins, até acho que a palavra “teologia” afastará muitos dos que gostaria que lessem o que tenho a dizer. Isso porque a espiritualidade cristã dos nossos dias é avessa ao saber e dada à oração sem meditação, um pouco por culpa de teólogos que levam uma vida estéril, dados a leitura, porém sem beleza no viver e sem graça no falar. Teologia pra viver é a proposta de um conhecimento experimental da pessoa de Cristo, não é reflexão abstrata, ainda que por vezes parecerá. É na verdade, o que gosto de definir como psicologia da Cruz. Uma reflexão (meditação) nas verdades mais preciosas da Bíblia que nos fará viver melhor.
Em uma aula inaugural, certa vez, no seminário em que estudei (Escola de Pastores) o Pr. Ricardo Barbosa expôs a necessidade de produzirmos uma “teologia mais espiritual e uma espiritualidade mais teológica”. Se entendi bem o que ele quis dizer, acho que encontrei essa boa equação na teologia do grande reformador. Lutero rompeu com essa visão aristotélica tradicional dos pares, que consiste na diferenciação entre teoria e prática, entre contemplação e ação, em suas palavras: “para que não sejamos seduzidos pela vita activa com suas obras nem pela vita contemplativa com suas especulações”. Para ele a terceira alternativa da teologia é chamada de vita passiva, que se desenvolve na fé.
A fé não é um fazer, mas um crer, onde o próprio crer é obra divina em mim, portanto, nem a fé é obra minha, mas de Deus. “A justificação da fé é passiva no fato de que deixamos Deus agir sozinho em nós e nós mesmos com todas as nossas forças não efetuamos nada próprio” (Lutero).
Portanto, crescer espiritualmente significa ser tomado gradativamente de uma consciência de quem eu sou na pessoa de Jesus. Vida passiva é conhecer Cristo e o seu fazer por mim, é me perceber em união com ele  e viver a partir de quem sou unido a essa pessoa. É desistir de toda dignidade própria e absorver a Cristo com toda a sua dignidade.

Sola fide!