“Por essa causa me ponho de
joelhos diante do Pai” (Efésios 3.1)
Durante muitos anos acreditei que
o auge da espiritualidade cristã era o conhecimento preciso, exaustivo e
correto da Bíblia. Conhecer o texto, sua correta interpretação e devida
aplicação no dia a dia da vida era o alvo da caminhada de um cristão. Foi
quando doutrinas centrais da fé só fizeram sentido pra mim depois de tê-las
experimentado em oração, como se o próprio Deus me soprasse elas e me fizesse
sentir o que eu só “conhecia de ouvir falar”.
No texto acima citado, numa das
cartas mais doutrinárias e densas da Bíblia, depois de uma exposição do que
significa a salvação e suas conseqüências na vida do eleito, após ter falado
das insondáveis riquezas de Cristo. Paulo abandona a pena (caneta) e se coloca
de joelhos, em oração, como se não tivesse mais nada a dizer à nossa cabeça, e
apela para Deus, no sentido de Esse, nos comunicar por meio do Espírito, ao
nosso espírito, e não ao nosso intelecto, o que nos fora comunicado com
palavras.
Daí eu entendo que há uma
dimensão do conhecimento cristão que não é da cabeça. Assim como o amor e
outros sentimentos não podem ser explicados, apenas sentidos. Mesmo que pudéssemos
explica-los, o entendimento não os transformariam em existência naquele que o
entendeu. Por exemplo, certa vez, me afeiçoei a uma criança muito fofa que
brincava com sua mãe e me pus a imaginar o quanto aquela mãe o amava. Então
perguntei a ela como era o amor por ele, ao que ela respondeu: “É um amor que
chega a doer”. Sua explicação não foi suficiente para eu “entender” o amor,
porém, mesmo que fosse, eu não teria imediatamente sentido o que ela sentia, tão
somente porque entendi. Pois o amor não é entendimento, é afeto, e como tal,
sai da competência da razão.
Assim é também nossa relação com
Deus e com as verdades bíblicas. A Bíblia não é um fim em si mesma, ela aponta
para um relacionamento vivo com o Deus vivo. Cristo é o Caminho e as Escrituras
Sagradas são as placas de sinalização.
Assim como Paulo depois de
escrever, abandona o texto e ora, devemos depois de ler, fechar a Bíblia e
dizer: “Pai, me faça sentir, ser e experimentar o que a tua palavra me ensinou,
amém”.