Um dia desses ouvi uma
adolescente expressar sua insatisfação com o modo de sua mãe educá-la. Ela dizia
estar cansada dessa coisa de sua mãe tentar fazer dela, uma versão melhorada de
si mesmo. Fiquei muito impressionado com a capacidade dessa adolescente
formular uma idéia tão, tão... nem sei.
Daí em diante comecei a perceber
que esse comportamento paterno e materno é um padrão. As pessoas, na sua
maioria, querem mesmo fazer de seus filhos uma versão melhorada de si mesmos. Idealizam
um ser humano ideal (desculpem a redundância) e tentam encaixar a criança
naquele papel.
Querem um filho que coma
alimentos orgânicos, não beba Coca-Cola, não coma doces, passe mais tempo com
livros que a televisão, não goste de vídeo games, pratique os melhores
esportes, não namore na adolescência, se case virgem, fale três línguas, seja
organizado, disciplinado, arrume o quarto, seja o primeiro da turma, enfim, a
lista de exigências é interminável.
Na maioria das vezes, esse
comportamento surge de pais frustrados com si mesmos e que, portanto, projeta
nos filhos aquilo que não são, e tentam fazer do filho o seu eu ideal. E acreditam,
de verdade, que seu filho pode ser um super-humano.
Um dos grandes problemas desse
comportamento, é que ele é idólatra. Faz do filho um ÍDOLO ideal de sua
imaginação enfermada, e pretende que seu filho seja a REDENÇÃO daquilo que ele
não foi. O filho, quando aceita esse papel, assume um compromisso religioso de
redimir seus pais, o que faz dele um escravo neurótico. Quando não aceita, o
que acontece na maioria das vezes, se torna rebele e irritado, porque ninguém
suporta o peso de ser um deus.
A cura dessa doença idólatra, é os
pais aceitarem suas falhas e assumir, de uma vez por todas, o papel de homem
comum, e assim, deixarem que seus filhos sejam os mais comuns dos seres humanos.
Do tipo que não gosta de estudar, curte as piores novelas da TV, só gosta de
comer porcaria, o quarto é uma bagunça... a cura está em ser normal.